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Projeto voluntário pede doação de instrumentos musicais para seguir transformando vidas de crianças no Recife
27 Set

Projeto voluntário pede doação de instrumentos musicais para seguir transformando vidas de crianças no Recife

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Emanuel Santana tinha de 13 para 14 anos quando começou a se encantar pela música. Usava lata de leite como percussão e, certo dia, quando tocava no Sítio da Trindade, uma moça se aproximou para apreciar o som que saía do instrumento improvisado. Ele ainda lembra o repertório: eram canções de Luiz Gonzaga, de quem ele sempre foi muito fã. A moça se aproximou, deu um telefone e pediu para Emanuel ir ao seu escritório. E assim ele fez. Ele se apresentou para aquela moça e não imaginava que, naquela sala, ele também se apresentava para outro artista que ele admirava, um mestre da improvisação. Naná Vasconcellos surgiu, cumprimentou Emanuel e o parabenizou. Foi o começo de uma virada na história do jovem músico, e também de uma parceria de sucesso. “Eu não tinha perspectiva de nada. Mas alguém me viu tocando na rua, me levou para uma sala, depois me levou para os palcos. A música salvou minha vida”.

Daí em diante, Emanuel não parou mais. Fez seu primeiro show ao lado de Naná Vasconcellos tocando pífano rachado, em 1997, e integrou a orquestra durante dois anos, período em que conheceu Salvador, São Paulo, Paris. Também foi flautista da banda Cascabulho e seguiu estudando música por conta própria, indo a livrarias, tentando entender a teoria. “Nunca tive condições de comprar um instrumento ou pagar o Conservatório de Música, então eu ia me virando. Graças a Deus, com as oportunidades que surgiram, eu consegui me profissionalizar. Hoje sou graduado pela UFPE e faço mestrado em Música ”, conta Santana, que agora trabalha como voluntário em um projeto que leva a música para crianças em situação de vulnerabilidade, no Recife. “Fui salvo pela música e é com essa arte que eu quero salvar outras vidas. Ensinar e inspirar crianças que têm a mesma realidade que eu tinha quando comecei.”

Ao lado do violonista, compositor e regente Sérgio Deslandes, que coordena o projeto, Emanuel leva música para crianças atendidas pelo Educandário Magalhães Bastos, unidade mantida pela Santa Casa de Misericórdia do Recife. “Quando cheguei aqui, logo me encantei pelas crianças. E, após levantamento, vimos que eles já tinham alguns instrumentos, porém são antigos, sem condições de uso. Tem violões, violinos, teclado, acordeons, todos precisando de reparos”, explica Sérgio Deslandes. Por enquanto, com o que têm à disposição, eles vão impactando vidas de crianças como Thaysa Camilly dos Santos Rodrigues, de 11 anos. “Eu sempre quis aprender e agora estamos tendo essas aulas com tio Sérgio e tio Emanuel, que são muito legais. Só que precisamos de mais instrumentos, né? Para poder fazer o nosso coral e se apresentar para todo mundo no fim do ano”, deseja a estudante.

De acordo com a assistente social da Santa Casa Recife, Alessandra Maria, essa parceria é importante, pois possibilita às crianças e adolescentes conhecerem novas formas de interação e entendimento do mundo, desenvolvendo habilidades e competências que podem ajudá-los ao longo da vida. “Trabalhamos com crianças em situação de vulnerabilidade e, através desta parceria, nós podemos despertar a alegria, vontade de cantar e dançar”, diz. “Esta é uma possibilidade de uma outra linguagem de aprendizagem e educação”. Ainda segundo a assistente social, por ser uma instituição filantrópica, a Santa Casa precisa da ajuda de toda a sociedade para levar mais arte e inclusão para 80 crianças e adolescentes atendidos na unidade. “Esse projeto vem para despertar o sentimento de solidariedade e compromisso em atuar e melhorar a vida da comunidade onde estão inseridas as crianças e, principalmente, onde está localizada a universidade”, pontua.

A dupla de voluntários, em parceria com a Santa Casa, pede ajuda por meio de doações financeiras ou instrumentos usados. “A gente precisa de apoio para seguir com essas aulas, ampliar o projeto e transformar mais vidas. Nosso foco, inicialmente, será nas flautas, já que temos um excelente professor, que é Emanuel. Além disso, as flautas têm um valor mais baixo, custam cerca de R$ 40 cada”, afirma o coordenador. Os interessados em doar para o projeto “Música do Bem” podem fazer um Pix para 10.869.782/0010-44 ou entrar em contato com a Santa Casa Recife pelo telefone (81) 81 9 8204-4874. As aulas acontecem às segundas e quintas-feiras, das 9h30 às 11h, e o Educandário fica na Rua Francisco Lacerda, s/n, na Várzea.

Sobre o Educandário Magalhães Bastos

No bairro da Várzea, Recife, um prédio histórico, construído em 1897, por Napoleão Duarte, chama a atenção de quem passa. No passado, o local abrigava crianças órfãs de várias partes do estado. Mas o extinto “Asylo da Infância Desvalida de Ambos os Sexos” deu lugar ao Educandário Magalhães Bastos, onde hoje crianças desenvolvem atividades socioeducativas e recreativas. O nome é uma homenagem ao antigo dono, Antônio Magalhães Bastos, comerciante português que expressou, em testamento, o desejo de doar parte do seu patrimônio como herança para as obras de caridade. Mantida atualmente pela Santa Casa de Misericórdia do Recife, a unidade oferece atividades no contraturno escolar, como aulas de música, dança, artesanato, pintura, educação física, informática, além de acompanhamento nutricional, psicológico e odontológico.

O Educandário tem sido, por décadas, um refúgio para crianças que vivem em situação de vulnerabilidade na região. "Entrei lá com oito anos de idade, depois de uma ruptura familiar. Eu era uma criança totalmente vulnerável. Dormia na rua, pedia esmola e passei fome. Então lá eu era alimentada, cheguei a dormir lá, inclusive, fui bem acolhida. Eu era uma criança tida pela sociedade como marginalizada, sem futuro, por conta da minha história. Mas, graças a Deus, eu encontrei pessoas maravilhosas no caminho, que me ensinaram, me mostraram o poder da educação. A minha criatividade, o meu desenvolvimento como pessoa e profissional vêm de lá. Eu não tinha nenhuma estrutura familiar, não foi fácil. Mas hoje eu sou o que sou porque acreditaram em mim. Sou muito grata”, conta Josielma Albuquerque, ex-aluna do Educandário Magalhães Bastos e hoje professora.